8 O ESTEREOTIPO DO CAIPIRA BRASILEIRO NA LITERATURA NOS QUADRINHOS E NA PINTURA
QUADRINHOS E NA PINTURA
Maria Vera Cardoso Torrecillas
No Dicionário de análise do discurso1, encontramos a seguinte definição de estereótipo:
Estereótipo e clichê denunciam uma cristalização no nível do pensamento ou no da expressão; portanto, estereótipo designa o que é fixo, estratificado, cristalizado. A psicologia social e a sociologia viram nos estereótipos representações coletivas cristalizadas, crenças preconcebidas frequentemente nocivas a grupos ou a indivíduos.
O estereótipo é também definido como uma ideia convencional associada à palavra. Em semântica, é uma representação dividida, por um lado, uma representação coletiva que subentende atitudes e comportamentos e, por outro, uma representação simplificada, que é o fundamento do sentido ou da comunicação.
Para a análise do discurso, o estereótipo, como representação coletiva cristalizada, é uma construção de leitura, uma vez que ele emerge somente no momento em que um alocutário recupera, no discurso, elementos espalhados e frequentemente lacunares, para reconstruí-los em função de um modelo cultural preexistente. Depende do cálculo interpretativo do alocutário e de seu conhecimento enciclopédico. Para a análise do discurso, ele constitui um lugar-comum, uma das formas adotadas pelo conjunto de crenças e opiniões partilhadas que fundamentam a comunicação e autorizam a interação social.
O estereótipo e os fenômenos da estereotipia ligam-se ao dialogismo generalizado, que foi colocado em evidência por Bakhtin, e retomado nas noções de intertexto e interdiscurso. Todo enunciado retoma e responde necessariamente à palavra do outro, que está inscrito nele; ele se constrói sobre o já-dito e o já-pensado que ele modula e eventualmente transforma. O locutor não pode se comunicar com os seus alocutários, e agir sobre eles, sem se apoiar em estereótipos, representações coletivas familiares e crenças partilhadas.
1
CHARAUDEAU, Patrick; MAINGUENEAU,