6 monólogos para mulheres
PARA MULHERES
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A Seleção Natural (Em um jardim florido).
Eu amo flores. Desde pequena eu sempre ajudei minha mãe com elas, tomei amor pela jardinagem. Mexo na terra, enfio meus dedos bem fundo nas covas úmidas, pretas e planto cada sementinha com todo cuidado. Fico esperando sempre que elas cresçam como bebês. E elas crescem, meus bebês. Fico absolutamente maravilhada com o mundo colorido e espinhoso das flores. Algumas têm veneno, e outras um perfume que deixa a gente bêbada. Eu adoro tomar um porrinho de perfume de flores. Ficar bêbada de perfume não é lindo? E eu gosto dos cheiros.
Gosto de homens cheirosos, sobretudo. Não muito cheirosos, o suficiente para não concorrer com o meu jardim. Mas engraçado, de receber flores eu não gosto.
Quando eu penso que só pra me ver sorrir alguém matou tantos botões eu fico louca de raiva. Mas não muito, não sou dada a esses excessos. Sou uma moça muito gentil, como vocês podem perceber. E eu não sei o porquê dessas
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perguntas todas. É como se vocês achassem que eu sou alguém que eu não sou. E eu sou tão simples, tão eu mesma, tão minha, tão pequena, tão fresca e delicada como uma gota de orvalho numa pétala. Sinto que posso até evaporar de tão insignificante. E é por isso que eu não entendo essa desconfiança toda de vocês. Vocês acham o quê? Que eu poluiria o meu jardim com sementes do ódio?
Nunca, não devemos ter ódio. O ressentimento é uma coisa bastante ruim. Eu sempre penso, e sei que é assim, não devemos sofrer. Devemos cortar o mal pela raiz.
Entenderam? Cortar o mal pela raiz. De um golpe só, como quem arranca um fruto, ou dois frutos. O mundo é cheio de excessos, e eu sou