50 Tons de cinsas
Lucas CharafeddineBulamah
Daniel Kupermann
Gostaria de iniciar esta comunicação com uma citação de Elisabeth Roudinesco, extraída de seu livro de 2002, chamado “A família em desordem”. Escreve a autora:
Como não ver nessa fúria psicanalítica do fim do segundo milênio, quando não sua agonia conceitual, pelo menos o sinal da incapacidade de seus representantes de pensar o movimento da história? (Roudinesco, 2003, p. 195, grifos da autora)
A fúria psicanalítica é a definição dada pela autora às declarações públicas de psicanalistas, verdadeira militância contrária às demandas de direitos por parte dos homossexuais e à concessão do estado francês chamada PACs (Pacte Civil de Solidarité). No coro de psicanalistas, encontramos Jean-Pierre Winter, Pierre Legendre, Charles Mellman, Cesar Botella, Gilbert Diatkine, entre outros, salvo algumas exceções ao discurso conservador.
É desnecessário fazer aqui um levantamento sobre tais declarações e o contexto do debate, cabendo apenas apontar, ainda seguindo Roudinesco, que não é somente no contexto francês que reivindicações de minorias mobilizassem psicanalistas, os quais assumiam a função de especialistas, em defesa de uma organização social e política cuja contrafação teria efeitos apocalípticos. Aqui, gostaríamos de apontar que as figuras e questões centrais nesta disputa, os homossexuais e suas reivindicações por direitos, marcam a história do movimento psicanalítico desde seus primórdios; no caso, uma história de constrangimento, silêncio e, principalmente, proscrição.
Segundo slide Encontramos psicanalistas revestindo-se de papéis de especialistas em um estágio anterior deste mesmo continuum de questionamentos e câmbios societários mais amplos em que se situam a questão da diferença entre os sexos, da escolha de objeto, etc. Nos termos da diagnose psicanalítico-psiquiátrica, característica dos Estados