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O trabalho “O Pixel da Voz”, do professor Thiago Soares, nos mostra uma significativa atualização dentro de um assunto tão sublime: o conceito de “grão de voz”, de Roland Barthes. De acordo com o escritor francês, “grão de voz” é uma partícula da voz, intangível e sublime, que misturada com uma certa performática, ambas emitidas por um corpo, nos suscita sentimentos que nos são tão comuns à música. No entanto, a música não continua sendo feita da mesma maneira que era feita nas décadas passadas. Os processos pelos quais os músicos passaram a gravar sua músicas evoluiram de maneira significativa. Hoje em dia podemos fundir nossas habilidades musicais com a tecnologia digital e produzir sons que jamais conseguiríamos produzir de maneira natural.
Apesar de não ser mais orgânica, a música continua nos tocando de diversas e intensas maneiras. Para explicar este aparente distúrbio, Soares criou um termo chamado “O Pixel da Voz”, substituido o grão por píxel, uma medida tangível comparada com outra intangível, simbolizando de maneira quase poética a mudança do corpo que emite a voz pelo digital que emite sons.
“O Pixel da Voz” nos mostra que temos muito a quem creditar parte dos elogios que damos a grande maioria dos artistas de hoje em dia: o produtor musical. Ele acaba permitindo que o artista atinga tons que normalmente não conseguiria produzir, o que muitas vezes acaba nos originando aquele quê de sublimidade que a música contemporânea nos dá, o chamado “Pixel da Voz”, que graças à experiência estética, nos é tão único, diferente ou até mesmo equivalente daquele que podemos obter ouvindo o “Grão da Voz”.
Guilherme Rocho de Menezes
Canoas, 12 de novembro de 2014