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Darwin, Lamarck e a influência do mundo real
Os professores do ensino médio (e eu estou incluído nesse peculiar grupo social) repetem tão exaustivamente certos conceitos que acabam por minar quase que completamente nossa capacidade analítica, nossa capacidade de pensar e estabelecer relações por nós mesmos. É certo que vários aspectos do processo cognitivo requerem repetições, mas não outros – muito menos todos! Uma dos exemplos curiosos dessas repetições nem sempre “adequadas” é a relação que acabamos sedimentando em nossas mentes das diferentes hipóteses evolutivas (que muitos chamam de “teorias”, como na famigerada frase “a teoria de Lamarck…”) com o mundo real, a realidade tangível. Senão vejamos.
O que passo a relatar ocorreu no milênio passado, talvez ali por volta do fim de 96 ou início de 97. Nessa época, eu assinava uma revista francesa de que gostava muito, a La Recherche. Em outubro de 96, foi publicado um artigo intitulado “Du nouveau sur l’origine dês espèces: Le paradigme darwinien revu par l’analyse moléculaire des bactéries”. Ainda guardo minhas revistas (desagradavelmente mofadas, em sua grande maioria), e consegui achar esse número! Para quem arranha o francês, copiei o resumo introdutório:
Les bactéries pratiquent une sexualité primitive mais particulièrement efficace, qui leur permet de s’adapter aux environnements hostiles. Deux systèmes de réparation de l’ADN jouent un rôle fondamental : le SRM et la réponse SOS. Agissant successivement ou de concert, ils organisent la capacité d’une population de bactéries à réagir face à une situation de stress. La mise en oeuvre de ces deux systèmes est susceptible d’induire un processus de spéciation. Il en va peut-être de même chez les eucaryotes, qu’ils pratiquent ou non une sexualité