2011
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35 Li sua carta mil vezes. Ela não sai de meu bolso. O envelope já está um farrapo e as palavras amassadas.
Quando sua carta chegou, todos ficaram curiosos. Clara, irmã menor, não saiu de meu pé. Toda hora me perguntava quem era Ana. Como responder, se nem eu mesmo sei quem é Ana? Tive de fugir de todos. Fui gastar ruas.
À noite, quando já estava pegando no sonho, apareceu mamãe querendo saber de Ana. Menti. Falei que Ana era invenção de Clara, ou será que é invenção minha? A carta que recebera era da Biblioteca do Colégio me cobrando um livro emprestado. Minha mãe não engoliu minha história e disse pra eu tomar cuidado com cartas de desconhecidas. Mãe é mãe e é vidente e você sabe disso.
Caí no sonho e a primeira pessoa que apareceu foi você. Estava de biquíni e em Cabo Frio. Só que não havia mar, havia montanhas e montanhas. Um mar de montanhas e você era a única mulher no pedaço. As outras pessoas eram vendedores de picolés, cocos, peixes. Quando me aproximei de você, a montanha virou mar de novo e inundou toda a praia.
Não consigo me lembrar de seu rosto, de seu corpo. Só me lembro da água virando montanha de novo e de uma flor falando meu nome. A flor era você, certamente.
Acordei sobressaltado Suava. Tentei recompor o sono. Nada. (Em tempo: não conheço o mar, nem Cabo Frio. Só sei que mar é um mundão de água escorrendo pelo planeta Terra.)
[...]
Matutei bastante. Até cocei a cabeça e pus a mão no queixo como os filósofos gregos. E resolvi e resolvo bancar esse jogo. E digo pra mim: “Sou brinquedo nesta dança, barbante neste pião e quero ser feliz”. E em paz comigo, faço de conta que tudo é verdade e entro de asas abertas nesta aventura. Neste enredo.
Malu é uma querida maluca que tem mania de me achar baixinho. Na verdade, não sou alto, talvez nem serei. Malu é grandona e acha que todo mundo deve ser do seu tamanho. Coisas de gente grande. Já minha mãe acha que esse negócio de altura é