1995 Retorno Filologia Ivo Castro
RETORNO À FILOLOGIA
O Retorno à Filologia
(1995)
[Publicado em Miscelânea de Estudos Linguísticos, Filológicos e Literários in Memoriam
Celso Cunha, Rio de Janeiro, Nova Fronteira, 1995, pp.511-520.]
I
Este título é tomado a um conhecido artigo de Paul de Man, "The Return to Philology", que na verdade se ocupa mais de teoria da literatura e de ensino da literatura que de filologia, tal como estamos habituados a concebê-la. Incluído no livro The Resistance to
Theory (Minneapolis, University of Minneapolis Press, 1986, p.21-26), este artigo defende que "a literatura, em vez de ser ensinada como matéria histórica e humanística, deveria ser ensinada primeiro como uma retórica e uma poética e só depois como uma hermenêutica e uma história". Para tal acontecer, requere-se uma transformação no ensino da literatura, que consista em substituir "padrões de excelência cultural, baseados no fim de contas em alguma forma de fé religiosa, por um princípio de descrença, científico mas sobretudo crítico", o que, no plano operacional, se traduziria em conceder prioridade ao exame das estruturas da linguagem sobre o exame dos significados que a linguagem produz. É essa prioridade concedida a análises de natureza linguística que Paul de Man designa por regresso à filologia. Não é difícil de aceitar esta proposta. Quem sabe que muitos críticos literários, professores de literatura, historiadores e demais estudiosos que operam sobre o texto escrito se contentam com a primeira edição que lhes cai na mão, quando não escolhem especificamente a mais portátil e barata, desinteressados de essa ser também, com certeza, a que lhes oferece o texto menos apurado, não pode deixar de concordar com a ordem de prioridades estabelecida por de Man. Mas, quando igualmente se conhece a enorme variedade de sabedorias e de peritagens que a filologia pode colocar ao serviço do apuramento do texto, desde a recuperação da parte oculta do palimpsesto até à despistagem das