1932 CONFER NCIA XXXII
10815 palavras
44 páginas
CONFERÊNCIA XXXIIANSIEDADE E VIDA INSTINTUAL
SENHORAS E SENHORES:
Não se surpreenderão se saberem que tenho muitas novidades a relatar-lhes a respeito de nossa concepção [Auffassung] da ansiedade e dos instintos básicos da vida mental; e não se surpreenderão ao verificar que nenhuma dessas novidades pode pretender oferecer uma solução definitiva para esses problemas não solucionados. Tenho um motivo especial para usar a palavra ‘concepção’, aqui. Estes são os problemas mais difíceis que se nos apresentam, mas sua dificuldade não está em alguma insuficiência de observações; o que nos propõem esses enigmas são realmente os fenômenos mais comuns e mais conhecidos. Nem a dificuldade se situa na natureza recôndita das especulações a que eles dão origem; a reflexão especulativa desempenha uma parte insignificante nessa esfera. É, contudo, verdadeiramente uma questão de concepções — isto é, de introduzir as idéias abstratas corretas, cuja aplicação ao material bruto da observação nele produzirá ordem e clareza.
Dediquei uma conferência (a vigésima quinta), em minha série anterior, à ansiedade; e preciso recapitular rapidamente o que ali disse. Descrevemos a ansiedade como um estado afetivo — isto é, uma combinação de determinados sentimentos da série prazer-desprazer, com as correspondentes inervações de descarga, e uma percepção dos mesmos, mas, provavelmente, também como um precipitado de um determinado evento importante, incorporado por herança — algo que pode, por conseguinte, ser assemelhado a um ataque histérico individualmente adquirido. O evento que consideramos como tendo deixado atrás de si uma marca dessa espécie é o processo do nascimento, ocasião em que os efeitos sobre a ação do coração e sobre a respiração, característicos da ansiedade, foram efeitos adequados. Assim, a primeira ansiedade teria sido uma ansiedade tóxica. Daí partimos para uma distinção entre ansiedade realística e ansiedade neurótica, sendo aquela uma reação, que nos parecia