1808
O RIO DE JANEIRO
A cidade que acolheu a família real portuguesa, em 1808, estava para as rotas marítimas transoceânicas como o aeroporto de
Frankfurt, na Alemanha, está hoje para os vôos intercontinentais.
Era uma espécie de esquina do mundo, na qual praticamente todos os navios que partiam da Europa e dos Estados Unidos paravam antes de seguir para a Ásia, a África e as terras recém-descobertas do Pacífico Sul. Protegidas do vento e das tempestades pelas montanhas, as águas calmas da Baía da Guanabara serviam como abrigo ideal para reparo das embarcações e reabastecimento de água potável, charque, açúcar, cachaça, tabaco e lenha. “Nenhum porto colonial do mundo está tão bem localizado para o comércio geral quanto o do Rio de Janeiro”, ponderou o viajante John Mawe. “Ele goza, mais do que qualquer outro, de iguais facilidades de [pág.
153] intercâmbio com a Europa, a América, a África, as Índias
Orientais e as ilhas do Mares do Sul, e parece ter sido criado pela natureza para constituir o grande elo de união entre o comércio dessas grandes regiões do globo.”1
Era uma escala fundamental nas longas e demoradas navegações ao redor do mundo. No começo do século XIX, uma viagem da Inglaterra ao Rio de Janeiro durava entre 55 e 80 dias. Do
Rio até a Cidade do Cabo, na África do Sul, eram mais 30 a 50 dias.
Até a Índia, de 105 a 150 dias. Para a China, 120 a 180 dias. Até a
Austrália, de 70 a 90 dias.2 A importância estratégica do Rio de
Janeiro para essas rotas era tão grande que, após a vinda da família real ao Brasil, a cidade se tornou sede do quartel-general da Marinha
Real Britânica na América do Sul, sob o comando do contraalmirante
William Sidney Smith, o mesmo que escoltara a esquadra portuguesa na sua partida de Lisboa, em novembro de 1807.3
Para os tripulantes e passageiros, a chegada ao Rio de Janeiro, em meio a uma viagem perigosa e monótona, era sempre um evento agradável e surpreendente. Todos os relatos se