1750
Language – Language and human action
Jean Itard e Victor do Aveyron: uma experiência pedagógica do século XIX e suas repercussões (*)
Luci Banks-Leite e Izabel Galvão, Universidade Estadual de Campinas, Universidade de São Paulo, Brasil
Desde que foram escritos, entre 1801 e 1805 os relatórios de Jean Itard têm conhecido sucessivos eclipses seguidos de redescobertas. Narrativa datada de quase duzentos anos, os relatórios de Jean Itard continuam extremamente atuais e provocadores, não só pela situação que apresentam, como pelo relato de uma experiência pedagógica com características peculiares, ou seja, a tentativa de educação de uma "criança selvagem". Diferentes pesquisadores cujos nomes se encontram relacionados ao campo educacional e clínico e mais precisamente ao que denominamos de educação especial, se interessaram por esse trabalho. Assim é que a médica e pedagoga italiana Maria Montessori (1870-1952) entusiasma-se, no final do século XIX, de tal forma pelos relatórios de Itard que os recopia à mão. Em 1914, o nome de Itard é mencionado, em uma tese de doutorado na França sobre a educação médico-pedagógica, como um predecessor de Séguin, seu discípulo que se dedicou à educação dos deficientes. Nos Estados Unidos, Itard será lembrado por psicólogos como, por exemplo, Gesell (1941) em um momento em que se reaviva um clima em torno do estudo de crianças selvagens.
Com a constituição do campo da psiquiatria e psicanálise infantil, Victor e seu mestre passam a ser objeto de interesse de representantes desta área; é assim que Léo Kanner, nos Estados Unidos, descreve em 1943, o quadro de “autismo infantil precoce” termo emprestado do suiço Bleuler e aponta Itard como um precursor desse domínio de investigação (cf. Kanner,1960). Pouco mais tarde, o psicanalista Octave Mannoni também escreve um artigo que se tornou um clássico a respeito de Itard, publicado no Temps Moderne (1965), um ano