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O resgate da Escola Nova pelas reformas educacionais contemporâneas
Roselane Fátima Campos
Eneida Oto Shiroma
Ilustração: Bianca Cassilha
Palavras-chave: reforma educacional; política educacional; escola.
R. bras. Est. pedag., Brasília, v. 80, n. 196, p. 483-493, set./dez. 1999.
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os anos 30, um expressivo movimento de educadores brasileiros discutiu e propôs novas idéias pedagógicas em oposição às práticas e conceitos predominantes nas escolas da época. Esse movimento foi chamado de Escola Nova. Este artigo visa rever alguns princípios da Escola Nova para indicar alguns aspectos de ruptura e continuidade daquele movimento que podem ser encontrados na reforma educacional dos anos 90 no Brasil. Ele foca quatro dimensões: a função socializadora da escola, centralidade do indivíduo e do processo de aprendizagem, escola como mecanismo equalizador das desigualdades sociais e a escola como o lugar de aprendizado da democracia.
Introdução
As transformações ocorridas no mundo do trabalho neste fim de milênio desencadearam impactos sociais nos diversos campos, inclusive no educacional. A busca por qualidade e competitividade forçou a criação e incorporação crescente de tecnologias cada vez mais sofisticadas de produção, informação, controle e gestão. A emergência de uma nova ordem mundial, caracterizada por mercados globalizados, por variadas formas de trabalho e emprego, estaria exigindo, segundo alguns estudiosos,
indivíduos com elevados níveis de qualificação e de adaptabilidade social.
Embora as pesquisas empíricas já tenham evidenciado que tais inovações propiciaram uma polarização das qualificações, as exigências de escolaridade para inserção no mercado de trabalho têm se elevado de forma generalizada. O discurso hegemônico dissemina a idéia de que o trabalhador mais escolarizado seria portador dos conhecimentos, valores, comportamentos e atitudes esperadas do "cidadão produtivo" do século 21. Por oposição, informa que os poucos escolarizados não