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Prepare o espírito e agarre firme as emoções porque um vendaval irá chacoalhar seus sentimentos como nunca, e saiba que será impossível não ficar dividido entre a cruz e a espada quando iniciar a leitura do romance "Tempo de Matar". Porque como um verdadeiro turbilhão, à guisa mesmo de tsunami, um universo violento, muitas vezes torpe, mas também deveras sutil em seus meandros trágicos se descortinará arrastando pelo recôndito do seu coração uma mistura de muita fúria e ódio, fervor e ansiedade. Tudo em proporções desmedidas, de modo que em sua alma vão transbordar tão-logo o fluxo da adrenalina saltando do apurado relato do escritor penetre sua corrente sanguínea e o leve à loucura da mais profunda reflexão a respeito de pena de morte, de perdão e de vingança.
A história já começa intensa e brutal, com a descrição de terrível estupro cometido por dois homens bêbados e violentos contra uma indefesa menina de cor. A clareza narrativa é cruel e dolorosa. Os mais emotivos chorarão, é fácil pressupor. E é justamente esse o odiento instante em que o leitor gostaria imenso de adentrar furioso o enredo para tentar de todas as maneiras socorrer a indigitada vítima inocente da sanha maligna dos biltres. Isso não sendo possível, resta apenas acompanhar, o coração prestes a sair pela boca, o desenrolar do drama vivido por ela. Como ocorre nesses casos abomináveis, a pobre criança escapa por um triz da morte, tendo porém, infelizmente, como era de se esperar, sucumbido à avidez animal dos monstros.
A família da menina se desespera ao saber do acontecimento. O pai, atormentado pelo pesadelo por que passou sua filha, que depois de encontrada vai para o hospital para se restabelecer, permite nascer no íntimo o desejo de fazer justiça com as próprias mãos. Nesse ínterim, a polícia prende os estupradores estarrecendo a população da pequena cidade onde tudo ocorreu, pois ambos eram velhos conhecidos da vizinhança. O ódio ardente finca raízes no