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Raúl Antelo 2
A revista literária é uma forma da crítica e, no entanto, estabelece mm ela relações bastante tensas. Fundamentalmente hierárquica já que pressupõe o julgamento universal, a crítica oferece totalidades estratificadas que impõem conexões reguladas ou mesmo controladas entre si por uma comunidade de especialistas. Sua multiplicidade é normativa. Entretanto, a revista literária é, a princípio, não hierárquica; ela oferece, horizontalmente, múltiplos enunciados, nem sempre passíveis de unificação ou convergência, porém, certamente rearticuláveis, em redes aleatórias, numa leitura de conjunto realizada a posteriori. Sua multiplicidade em conseqüência é anômala e estriada. Apesar dessas relações contraditórias, as tarefas mais prementes da crítica no século XIX, como definir, por exemplo, a diferença entre escrita "criativa" e "reflexiva", entre "intelectuais" e "escritores", ou entre "originalidade" e "mimetismo" foram, justamente, realizadas pelo periodismo cultural que muito contribuiu à formação de uma esfera pública laicizada. Agindo, de início, nas Academias e mais tarde, nos Institutos oficiais e no jornalismo, o trabalho crítico foi transformando e autonomizando, ao longo desses anos, o círculo restrito dos fruidores artísticos, que evoluem da categoria de simples amador literário à de crítico profissional. A herança clássica com que se abre o
Oitocentos, a premissa utilitária de que "rien n'est beau que le vrai", responde, logo nas primeiras décadas, por um esforço imenso em traduzir as variabilidades dos comportamentos na linguagem regular e previsível da topografia. Não nos esqueçamos, por exemplo, que a idéia de unidade ou cânone universal fundamenta a viagem de La
Condamine à Amazônia em 1735 com o intuito, precisamente, de confirmar as medidas do globo terrestre. Cabe, então, à literatura fornecer a contrapartida imaginária desse afã. Essa cartografia moral incipiente dá ao imperativo categórico iluminista