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D o canto popular e da fala poéticaDo
canto popular e da fala poética
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otencializar a expressividade da voz e da fala, um dos fundamentos do trabalho vocal do ator na construção poética da representação, depende da disponibilidade e da condição de encarar este elemento de seu instrumental como parte de sua criação – produção e realização em sentido intenso, eminente, absoluto –, decorrente de um profundo saber do campo em que atua e de uma técnica construída a partir do conhecimento e do treinamento do próprio corpo.
Com sua voz, o ator cria ritmo e melodia, cadências, as mais sutis modulações e inflexões, música, enfim, transformando seu texto em verdadeira partitura de tempos precisos, pausas contadas, compondo, entre sons e silêncios, a fala teatral.
Esta aproximação dos termos musicais aos procedimentos técnicos da fala denota muito claramente o quanto esta se encaminha, em seu processo de elaboração, para a complexa simplicidade da música.
A prática de elaborar a voz e a fala por meio do canto não é, então, um artifício equivocado. Principalmente quando se sabe que elementos serão identificados, reconhecidos e ex-
Lopes
plorados, que transposições e aplicações serão buscadas para a fala e, sobretudo, que integração terá no processo de criação.
A técnica vocal que o ator desenvolve, a partir do canto, dota-o de um controle sem ansiedade da respiração pelo conhecimento da musculatura, de uma ampliação da intensidade sonora pela maximização da função dos ressoadores, de definição e precisão na emissão, de flexibilidade e nuances nas tonalidades, de ampliação dos limites da extensão a partir dos tons médios. Em relação à fala, a sustentação de sons presente no canto resulta num equilíbrio de sonoridade, evitando a perda de rendimento tão comum aos finais de palavras e/ou frases; a silabação determinada pela melodia leva, à fala, a estabilidade do tempo e a existência de cada som; a acentuação das melodias permite a compreensão e a manutenção da