James Clifford_ensaio

Shotask cita “Nisa conta a sua vida” – ele vai constatar que a autobiografia é uma potencial forma de produção de significado no Ocidente e que os variadíssimos registos utilizados por esta antropóloga fazem parecer a sua narrativa cheia de significado e muito verdadeira, ou seja, é alegórica. Mais à frente no texto, é salientada a ideia de etnografia pastoral – ele pega na alegoria do “salvador”, uma estrutura da escrita etnográfica como resultado do transporte da experiencia do discurso oral para texto – o etnógrafo é visto como um salvador das culturas “desaparecidas”, uma visão evolucionista que se pensava estar já abandonada. Porém, hoje em dia isto já não acontece. Os etnógrafos já não corrigem o que é dito oralmente nos textos escritos, eles traduzem ou reescrevem algo que já existe mas de outra maneira. Posto isto, o dualismo entre o alfebetizado e não alfebetizado não existe mais mas a ideia de salvar aquilo que desapareceu continua e “é um dos impulsos mais fortes na alegoria na alegoria". Assim, Clifford é da opinião de que apenas podemos resistir a este impulso estando de mente aberta em relação a culturas e formas de vida diferentes. Concluíndo, não há forma de separar o factual do alegórico nos textos culturais tal como não há forma de controlar o significado de uma abordagem etnográfica. O reconhecimento de alegorias requer que como leitores quer como escritores de etnografias temos que lutar para enfrentar e tomar responsabilidade pelas nossas…