É Bastante Reconhecida A Tese De Que A Categoria Indivíduo é Aquela Que Confere Inteligibilidade à Experiência Ocidental
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É bastante reconhecida a tese de que a categoria indivíduo é aquela que confere inteligibilidade à experiência ocidental. Seja tomado como núcleo de nosso sistema valorativo desde o Renascimento, seja o cristianismo primitivo afirmado como seu ponto originário, há de se admitir, entretanto, o caráter específico que vem a adquirir o individualismo na era moderna, quando de fato o indivíduo se constitui em sujeito da reflexão ética e política. O teor peculiar do individualismo moderno, identificável sobretudo no pensamento iluminista, parece ter-se consolidado e revela sua persistência histórica, incidindo sobre esquemas avaliativos contemporâneos. Especialmente, uma filiação aos pressupostos daquilo que se convencionou chamar utilitarismo clássico – tendo em Jeremy Bentham, James Mill e John Stuart Mill seus principais expoentes – parece condicionar a atual adesão a um particular conjunto de suposições: a concepção de unidades isoladas, dotadas de interesses próprios, legitimamente divergentes entre si, aparece arraigada em nossa ideia do que venha a compor um corpo social. A presente investigação pretende identificar o que significa o estabelecimento da utilidade como centro gravitacional da reflexão desenvolvida por aqueles autores, tanto do ponto de vista das bases filosóficas que lhe dão sustentação, quanto da perspectiva de seus desdobramentos como princípio organizador das relações sociais e políticas. Desenvolvemos a tese de que o pensamento utilitário possui ao menos dois traços distintivos que lhe conferem especificidade quando considerados no cenário do pensamento político moderno: de um lado, a preocupação prática, isto é, a elaboração teórica centrada no objetivo de encontrar expressão institucional concreta; de outro, o desenvolvimento de uma doutrina filosófica que, ao colocar a dimensão do cálculo e da instrumentalidade como seu ponto referencial, apresenta-se como eminentemente neutra do ponto de vista valorativo. Nosso esforço dirige-se à