Ética
Ética e Serviço Social1 Valéria L. Forti∗ Diferente dos demais animais que meramente consomem o que o meio natural lhes provê, o ser humano produz seus meios de vida. Com sua ação, portanto, ele ultrapassa o determinismo natural, estabelecendo uma ação criadora face à natureza, conquistando a sua humanidade — o homem é um ser “ontocriativo”, ou seja, um ser que cria o seu próprio ser (Kosik, apud Oliveira, 1998, p. 29). A mediação que é o eixo dessa ultrapassagem do mero condicionamento natural para a criação, apesar da conservação do conteúdo natural na existência humana, é o trabalho. O trabalho é atividade vital à existência humana, atividade que a constitui e a caracteriza, fonte de satisfação das necessidades do ser humano e a sua possibilidade histórica. O primeiro ato histórico pelo qual podemos distinguir os homens dos demais animais não é o de pensarem, mas o de começarem a produzir os seus meios de vida (Marx & Engels, 1984, p. 14). Por meio do trabalho — atividade racional dirigida a um fim, pois pressupõe a faculdade humana de projeção, de atribuição consciente de finalidade às ações —, o homem transforma a matéria natural com vistas à satisfação de suas necessidades e, neste processo, também produz a si mesmo, identificando-se no que produziu, conquistando a sua humanidade, produzindo as relações sociais e engendrando a História. Podemos distinguir os homens dos animais pela consciência, pela religião, por tudo o que se quiser. Mas eles começam a distinguir-se dos animais assim que começam a produzir os seus meios de vida, passo este que é condicionado pela sua
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Texto publicado no site www.assistentesocial.com.br, no Caderno Especial n. 27, nov/dez,2005. ∗ Professora-assistente da Faculdade de Serviço Social da Uerj; mestre em filosofia – UGF; membro do Programa de Estudos do Trabalho e Reprodução Social – Petres – FSS/ Uerj, doutoranda do Programa de pós-graduação em Serviço Social da Ufrj.
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organização física. Ao produzirem os seus