Ética
On n’est pás sérieux, quando n a dix-sept ans – disse o Sr. Arthur Rimbaud, que foi um adolescente desvairado. Eu era. Aos dezessete anos eu era um magro e sério estudante de direito que morava junto ao campo de São Bento, atrás de Icaraí, e estudava direito no Catete.
1929 – 30 foi uma das fases mais dolorosas de minha vida; perdi duas pessoas muito queridas e minha saúde foi abalada a um ponto que saí de uma conferência de três ilustres médicos friamente resolvido a dar um tiro na cabeça, no lugar de fazer a operação que eles tinham resolvido. (Procurei um outro médico ao acaso, um profissional sem nenhum cartaz, ele resolveu o caso e vendi com pequeno prejuízo o revolver que já comprara de segunda mão.
Em outubro de 1930 eu devia estar em Cachoeiro, pois as aulas da faculdade estavam suspensas; fiquei no Rio para me tratar. No dia 24 de outubro vim ao médico, na Rua São José. Quando saí do consultório, notei um movimento na Galeria Cruzeiro. Fui para lá: todo o mundo dizia que a Revolução tinha vencido. Custei a acreditar, inclusive porque eu era contra a Aliança Liberal. Um conhecido me convidou para ir até o Palácio Guanabara, onde diziam que o presidente já estava cercado. Preferi ficar vagando pela avenida, que logo se encheu de povo; passavam automóveis abertos com gente de lenço vermelho a dar gritos de viva e morra; não me esquecerei de uma mulher meio gorda, de pernas abertas, sentada no radiador.
Depois de muito vagar, encontrei Leonardo Mota, que passara uma temporada em Cachoeiro. Ele também, se não era contra, não dava mostras de simpatizar com aquela revolução; ficamos a vagar pelo meio da avenida, calados e sérios, no meio da multidão exaltada. Assistimos juntos ao incêndio de O País. Vimos a chegada dos bombeiros, e agente do povo subindo em seus carros para impedir que eles trabalhassem. Cada sujeito que saía da redação já em chamas trazia alguma coisa de lá; vi muitos que traziam um exemplar de um dicionário