Ética e Técnica?
Ética e Técnica?
Dialogando com Marx, Spengler,
Jünger, Heidegger e Jonas
FRANZ JOSEF BRÜSEKE*
Com referência à técnica e sua evolução histórica, conhecemos uma postura positiva que atribui à técnica um papel importante, se não o mais importante, no processo da progressão da humanidade. Esta filosofia positiva da técnica é inseparavelmente vinculada com a filosofia do progresso, tanto de cunho burguêsliberal como de cunho marxista. As duas vertentes, enquanto herdeiros do iluminismo europeu do século XVIII, tinham uma relação otimista com a ciência e a técnica modernas, focalizando a idéia do desenvolvimento no crescimento dos potenciais produtivos acelerado por uma nova formação sócio-econômica.
A visão acrítica do desenvolvimento das "forças produtivas" dificultava, assim, um aproveitamento das análises de Marx sobre a técnica pela crítica ecológica, que nasceu justamente quando o marxismo acadêmico entrou, no final dos anos setenta do século XX, em declínio. Niklas Luhmann diria que o marxismo mostrou-se como nicht anschlussfähig, i.e., incapaz de garantir passagens para outros temas e outras abordagens a partir do seu paradigma central. Todavia, foi Marx o primeiro que, nos meados dos anos quarenta do século XIX, deu destaque ao papel da técnica no contexto de uma teoria social e econômica de longo alcance. Apresentou o homem como toolmaking animal, um animal capaz de produzir suas próprias ferramentas e suas próprias condições de vida. Entre as forças produtivas, os instrumentos de trabalho possuem
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Franz Josef Brüseke, dr.phil. pela Universidade de Münster, Alemanha; leciona sociologia na Universidade
Federal de Santa Catarina; publicou na Alemanha os livros: Blätter von Unten (em co-autoria com GrosseOetringhaus, Offenbach: Verlag 2000, 1981) e Chaos und Ordnung im Prozess der Industrialisierung (Hamburg/
Münster: LIT, 1991). Em