Édipo nosso de cada dia
Palavras chave: pai, castração, gozo. Neste trabalho, proponho uma apreciação sobre o Édipo em Freud e Lacan devido a um impasse na clínica da psicanálise quanto ao diagnóstico diferencial no campo das neuroses e psicoses. Conforme nos aponta Carmen Silvia Cervelatti, desde o início de seu ensino Lacan mostra que Freud responde à questão: o que é um Pai? com o pai morto. O pai em Freud é o pai morto, retomado por Lacan como Nome-do-Pai . Pai morto aparece articulado nos dois mitos freudianos: o pai da horda primeva e o pai do complexo de Édipo (p. 01, 1997).
Freud desde a perspectiva totêmica, desenvolve os substitutos paternos: animal totêmico (o primeiro substituto), deuses, reis, heróis, Deus único. A série continua, conforme a civilização avança. Se há substitutos paternos é graças a um "pai primeiro", do qual dependeria todos os seus substitutos?(CERVELATTI, 1997, p. 1). Na horda primitiva, o pai primevo era detentor do gozo, somente ele poderia ter acesso a todas as mulheres e daí ter acesso ao gozo. Após sua morte poderia haver o acesso às mulheres, mas não de forma direta, de modo que o mesmo lugar teria que ser ocupado por outro, que restituiria o pai primevo a ser assassinado. Assim institui-se a ordem social baseada em duas interdições: dois desejos são interditados e recalcados com o complexo de Édipo.
Não é sem razão que Freud afirma que o pai tornou-se mais forte morto do que vivo (Totem e Tabú). Não é senão quando se quis aceder a um gozo absoluto (o do pai primevo) que se pode aceder à sua proibição, reinstalando que a satisfação toda é impossível. O recalque primário é irreparável, insolucionável e derradeiro. Para sair do animal e ir para a ordem do humano há uma "renúncia", da ordem do "sacrifício"(CERVELATTI, 1997, p. 1). A marca da castração surgirá a partir da renúncia ao gozo incestuoso e do consentimento em perdê-lo. Lacan nos traz que, o “pai primevo” em Freud,