UM OLHAR SOBRE OS RELEVOS DA DANÇA DO RECIFE
Christianne Silva GALDINO
(Universidade Federal Rural de Pernambuco)
RESUMO: Para olhar os relevos da dança do Recife, partimos da aceitação da natureza líquida da sociedade e da arte contemporânea, situando a realidade da dança local em uma região de fronteira, porém permeável, flexível, um espaço privilegiado de tráfego de informações e gestação de híbridos culturais. E, utilizando a noção geográfica de relevo trouxemos questões sobre as múltiplas formas de dança que surgem desse fértil terreno. A relação com a tradição, o popular; a encarnação consciente da cultura e o jeito coletivo de se organizar são pontos de intersecção que nos ajudaram a enxergar os discursos e as texturas comuns às produções de dança do Recife.
PALAVRAS-CHAVE: Recife; dança; hibridização cultural; tradição; contemporaneidade
1- Introdução
Estamos testemunhando a vingança do nomadismo contra o princípio da territorialidade e do assentamento. No estágio fluido da modernidade, a maioria assentada é dominada pela elite nômade e extraterritorial.
(BAUMAN, 2006: 20)
Em tempos de domínio nômade, as fronteiras ganharam outros significados, perderam a rigidez e sua função de divisão de espaços já não faz sentido. Aprendemos a vê-la como terreno fluido, local que, por sua vez, favorece os processos de hibridização cultural. Ao carregar a proposta de não ser tratada como contorno de conteúdos que compartilham características que os identificam, a fronteira pode propor-se como uma membrana permeável entre dentro e fora – o que faz toda a diferença, pois instala a compreensão das próprias características no eixo do tempo. Com isso, transforma radicalmente o entendimento de que tudo se resume à tarefa de identificar características. (KATZ, 2004: 123)
No universo da dança, as regiões de fronteira parecem ser invariavelmente zonas de tensão, ainda que a guerra não seja declarada e que a fronteira não seja mais impermeável