Não sorria. Não porque não queria, mas porque não podia. Nascera com uma deficiência. Se sorria uma vez, os músculos do rosto distensionavam e ele acabava morrendo inconsciente devido ao relaxamento da cabeça. Seu nome era Augusto. Do latim, “o persistente”. “Não desanima nem mesmo quando os obstáculos que encontra pela frente parecem intransponíveis”. Gostava de balé. Já tomara uma decisão: queria ser bailarino. Aos cinco anos de idade, entrara para uma companhia de artes clássicas. Porém, como não podia sorrir, participava somente das apresentações tristes. Sentia-se excluído, mas a paixão pelo movimento era o que o mantinha vivo, com forças para seguir em frente. Quando completava quinze anos, o seu maior sonho estava se realizando. Augusto havia conseguido montar o seu próprio espetáculo, uma ópera trágica de dois atos. Em uma semana, no sábado seguinte, esta seria exposta ao público no teatro municipal. Saíra de casa com um único propósito: ensaiar a peça pela última vez. Todos os atores e atrizes estavam presentes. Conseguiram ajustar os últimos detalhes para que a apresentação obtivesse o máximo de êxito. O ensaio havia durado cinco proveitosas horas de muito trabalho e esforço. Quando Augusto voltou para casa, viu as portas e janelas arrombadas. Seus pais haviam sido assaltados à mão armada. Caídos sem vida no tapete da sala, suas feições pediam perdão ao filho por não poderem ir vê-lo atuando. Augusto tinha certeza de que nunca sorriria, definitivamente. Uma semana se passou e o primeiro ato estava prestes a começar. O teatro municipal havia lotado para ver a estreia do tão falado “filho pródigo”. O menino não estava ansioso, tampouco realizado. Se seus pais não estavam lá para prestigiá-lo, não havia mais porque se esforçar para obter sucesso. As cortinas se abriram e o primeiro ato começava. Toda a graciosidade e nobreza de um cisne eram interpretadas por Augusto. Cantando, ele mostrava sua firme e afinada voz, como se estivesse pairando no ar