O Verme

O Verme

O Verme entra no restaurante e ele sabe que não merece estar ali. Aqueles preços altos, clientes gordos e carecas, esbanjando dinheiro enquanto ele vive na merda.
O Verme não deveria estar ali. Ele sabe que apesar da roupa social, a gravata e os sapatos bem lustrados, ele não pertence ali. Os clientes não sabem que o Verme não deveria estar ali. O garçom, o gerente, o dono e até a senhora recepcionista não sabem que ele não deveria estar ali. Mas logo irão descobrir.
Assim que entra no restaurante, o Verme é recepcionado pela senhora da entrada e o simpático garçom que logo se apresenta:
- Boa noite, senhor. Queira se sentar. Belos sapatos, se me permite o elogio, estão bem lustrados e conservados. O que o senhor vai querer? Fique a vontade.
“Eu deveria matar todo mundo desta merda de lugar, a começar por aquele gordo careca e deixar o melhor para o final: Esse maldito garçom metido a simpático que não para de falar”, pensou o Verme, enquanto o simpático garçom lhe apresentava o menu e as especialidades da casa.
- Eu quero um bauru e uma Steinhaeger. – disse o Verme sem ao menos tocar no menu. - Algo mais, senhor? – perguntou o garçom, agora ligeiramente mais calado, e com um tom surpreso pela reação do cliente.
- Traz uma cerveja para acompanhar. – respondeu o Verme.
- Qual cerveja o senhor quer? Temos várias marcas, temos em lata, garrafa, long neck... -Traga a que seja mais fácil de tomar. – interrompeu o Verme.
- Perdão, senhor?
- Me traga a mais barata e que não tenha gosto de mijo, sabe? Alguma coisa que eu tome e que não me prejudique o gosto, nem a noite. Não seja estúpido, você sabe do que eu estou falando. Apenas traga-me uma cerveja acessível e de boa qualidade. Vamos, homem!
- Sim, senhor – disse o garçom, atônito.
O Verme não sabia ao certo porque estava ali. Sabia o que o levara ali, mas não sabia porque e como decidiu estar ali. Sabia, contudo, como iria sair. Ele não tinha um centavo no bolso, todo o dinheiro que havia ganhado no seu último