O trabalho de citação
Por Renato de Brito
Passando os olhos pelos jornais ou pelas notícias da Internet, seguramente você já reparou que no texto jornalístico as falas atribuídas a um entrevistado são destacadas entre aspas (“....”). A marcação serve para o leitor separar aquilo que é o texto do jornalista daquilo que é o “texto” do entrevistado. Quando um jornalista abre aspas, ele está nos informando que as palavras que seguem são uma citação das palavras de outrém. Entretando, mesmo que o jornalista explicite a referência às palavras que não são suas, a prática de citar não é sempre livre de tumultos. Acompanhemos um caso famoso e recente.
Em novembro de 2009, a imprensa brasileira noticiou e discutiu uma polêmica declaração de Caetano Veloso. Em entrevista à jornalista Sônia Racy, do jornal O Estado de São Paulo, o cantor e compositor baiano declarou que o presidente Lula é um analfabeto. Nas semanas que seguiram, a classe artística e política teceu comentários de amor e ódio ao tropicalista baiano. Gilberto Gil, ex-ministro da cultura de Lula, saiu em defesa de Caetano alegando que o amigo, na verdade, quis dizer o Brasil é um país maravilhoso por que é um lugar em que alguém que não passou por todas as fases da educação formal pode ser eleito presidente, e chamou a atenção para o fato de que Lula é altamente letrado nos jogos de poder, já que foi um hábil negociador sindical desde jovem. Mas foi o dramaturgo José Celso Martinês Correa, do Teatro Oficina, em entrevista para a Revista Fórum, quem atacou o cerne da questão. Ele lembrou que os repórteres costumam apanhar, no fluxo de fala do entrevistado, passagens polêmicas, o que fazem para vender jornal. E nem sempre estes “recortes” refletem a opinião do entrevistado. É bastante comum pessoas públicas reclamarem dos acentos que os repórteres dão às suas declarações através da edição das falas.
Se no universo da imprensa, em que textos e imagens são efêmeros, isto aconteceé frequentemente,