O SÉCULO SOMBRIO Léa Maria Aarão Reis
Com esta forte imagem poética, o professor de História Moderna e Contemporânea da Universidade do Brasil/UFRJ, Francisco Carlos Teixeira da Silva inicia uma brilhante apresentação do volume “O Século Sombrio – Uma História Geral do Século XX”, lançado este ano e organizado por ele, com a participação de doze outros pensadores de diversas áreas - Paulo Roberto de Almeida, Paulo Fagundes Vizentini, Sidnei Munhoz, Williams Gonçalves e Maria Yedda Linhares dentre outros.
“Avançando já no século XXI – nascido sob o signo do Terror e da Guerra, parceiros diretos de um Marte belicoso – podemos olhar para trás e tentar uma visão de conjunto sobre o século XX,” escreve Francisco Carlos, lembrando que “foi, ainda, o século em que valores, afetos e relações foram duramente atingidos pela lógica da mercadoria, um Midas perverso que transforma tudo que é belo, sagrado ou afetivo em objeto de troca, em símbolo de poder ou prestígio efêmero.”
O trabalho tem estrutura semelhante ao volume “Le XXème siècle des guerres”, da Les Éditions de L’Atelier, editado pelos co-diretores da revista de história social “Histoire et Societés”, lançado na França também este ano.
“O Século Sombrio” é um vasto painel procurando mostrar o quanto os últimos cem anos foram ambíguos, tempo de grande complexidade, de paradoxos, durante o qual, em certos instantes, como por exemplo durante a breve festa dos anos 60/70, as visões (ilusões?) libertárias e liberadas, do futuro, apareciam, luminosas, num mesmo momento em que ocorria a informalização dos costumes (o grifo é do autor), “expressos no enfraquecimento da figura paterna, no avanço das possibilidades do desejo e nas possibilidades que oferece a moderna sociedade afluente.”
O dominante, no entanto, registra Francisco Carlos, “é o meio-tom, o cinza, o sombrio.” Nem uma idade de trevas nem um século de luzes”. Por isto, egundo