O surgimento e as primeiras experimentações com sons eletrônicos
No início dos anos 90 tornou-se prática dos jovens brasileiros festejar ao ar livre, em áreas afastadas dos centros urbanos, por mais de 12 horas, ao som de música eletrônica. Essas festas, chamadas de raves, são realizadas em espaços especialmente escolhidos e preparados para a construção e o fortalecimento de uma rede de sociabilidade particular, nos quais se exercitam encontros e trocas. Rede que não se esgota no próprio evento, mas se alastra e orienta pessoas por todo o mundo.
Apostando que uma expressão musical é muito mais que um conjunto de sonoridades, pretendemos ver a música eletrônica como um espaço em que além do consumo de música, diversas práticas, valores e comportamentos se articulam. Nesse sentido analisaremos como esse tipo de música afirma um discurso de liberdade e confraternização, ao mesmo tempo em que se utiliza de práticas de exclusão e preservação de seus próprios códigos.
1.1. A origem da música eletrônica mundial
A habilidade de gravação sonora não é um artifício essencial para a reprodução de música eletrônica, porém, é um mecanismo muito útil. As primeiras impressões de sons foram gravadas no ano de 1857 pelo francês, Leon Scott. Ele utilizou cilindros revestidos de carbono, mas seu aparelho não era capaz de reproduzir o áudio, e sim, de criar uma imagem do som. Após duas décadas, em 1878, Thomas A. Edison patenteou o fonógrafo, que utilizava um sistema de cilindros similares ao dispositivo de Scott. Mais de duas décadas se passaram e no ano de 1897, o inventor alemão, Emile Berliner, criou o fonógrafo em disco, de acordo com Rodrigues1. Segundo o autor, com o movimento futurista, iniciado na Itália em 1909 pelo poeta Filippo Marinetti, se expandindo pela Europa, pregando a defesa pela liberdade da expressão artística, foram surgindo novas técnicas de produção sonora não convencionais. Surgindo assim o que é considerado "barulho" musical. O