O sofrimento como via de salvação em a luz no subsolo
Daniele Soares Ribeiro
Resumo: o presente artigo tem por objetivo discutir a presença do sofrer e da dor como via de alcance salvífico em A luz no subsolo, terceiro romance de Lúcio Cardoso. Durante o percurso investigativo analisaremos as figuras femininas, dando especial relevo às personagens Madalena e Emanuela, em oposição à presença de Pedro, elemento desencadeador da força destrutiva no enredo. Objetiva-se ainda verificar como a vertente social e a intimista se tocam e se complementam na elaboração do todo da obra.
Palavras-chave: sofrimento, salvação, Madalena, Emanuela e Pedro.
Em 1936, o escritor mineiro Lúcio Cardoso, escreve seu terceiro romance A luz no subsolo. Estando em uma época marcada nos meios literários pela dicotomia social/intimista, sua produção atravessa tais barreiras e faz emergir um romance marcado pelo aproveitamento das sugestões do surrealismo, sem perder contato com as questões sociais, especialmente as voltadas para as questões da decadência das famílias patriarcais de Minas Gerais.
Em período anterior, 1934, o autor, natural de Curvelo, publicara Maleita, narrativa que focaliza a fundação de Pirapora, o sertão mineiro, sua gente e a miséria presente ali. Com tal espaço e temáticas ficara simples a inclusão da produção na vertente regionalista/social do romance de 30, conforme previa o momento dicotomizado da literatura de 1930.
Antônio Candido, ao tratar sobre o decênio de 30, expõe o momento como fase de polarizações explícitas, como no caso da opção pela direita conservadora e intimista ou pela esquerda moderna e engajada. O posicionamento político, social, religioso e ideológico dos intelectuais e artistas da época é descrito por Candido do seguinte modo:
[...] houve polarização dos intelectuais nos casos mais definidos e explícitos, a saber, os que optavam pelo comunismo ou o fascismo. Mesmo quando não ocorria esta definição extrema,