O Serm O Do Bom Ladr O
Manoel Paulo de Oliveira*
Introdução
A história da Humanidade, desde épocas imemoriais, está cheia de episódios de locupletamento de coisas e bens de uma pessoa por outra, de nações e países, mediante ações ou omissões na subtração, de modo sub-reptício, ou ostensivo com ou sem violência ou guerra.
Pero Vaz de Caminha, sua Carta e a usurpação da função pública
Embora a Carta de Pero Vaz de Caminha, enviada ao rei D. Manuel seja considerada a fonte oficial e detalhada, para a reconstituição dos primeiros dias no
Brasil, a notícia sobre as novas terras pouco impressionou Lisboa. Na Corte, ardia o desejo de descobrir o Preste, o encantado reino de Preste João, lendário soberano cristão do Oriente.
Cabral fora mandado com tal missão, e não para descobrir terras, que Portugal já as possuía bastante. Portugal ambicionava outras coisas: muitos rubis! Muitas esmeraldas! Ao dizer que, “Nela, até agora, não pudemos saber que haja ouro, nem prata, nem coisa alguma de metal ou ferro,” Caminha, dizendo ainda que, “querendo-a aproveitar, dar-se-á nela tudo,” com toda a sua cultura, naquele curto espaço de tempo – de 21 de abril a 1º de maio, que é a data de sua Carta –, nesses dez dias, foi possível avaliar as roças plantadas pelos índios, a qualidade das terras de natureza tropical? Evidentemente que Caminha tinha outros interesses, que não o de escrivão oficial.
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Ainda que tenha escrito a Carta, Caminha não era o escrivão oficial da viagem de
Cabral, cargo formalmente ocupado por Gonçalo Gil Barbosa. Ele fora escalado para ser o contador da feitoria de Calicute. Era, portanto, um passageiro com destino e uma missão definidos.
Caminha era membro da "burocracia letrada e média, mais próxima da burguesia do que da autêntica nobreza". Ele nascera no Porto, na quinta década do século XV, filho de Vasco Caminha, que havia ocupado vários cargos fiscais, entre os quais o
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