O santo nosso de cada dia
A RELIGIOSIDADE POPULAR ATRAVÉS DA VIDA E OBRA DO
PADRE CÍCERO
Maria José Oliveira
Resumo:
Trazida pelos colonizadores europeus, adicionada de ingredientes indígenas e africanos, o catolicismo popular se adaptou em terras brasileiras carregando em seu escopo traços de cada uma de suas partes constitutivas. Dentre as mais diversas manifestações do sagrado em terras brasileiras, encontramos o fenômeno do messianismo em destaque, principalmente no nordeste do país. Este artigo se propõe a fazer uma breve trajetória de um dos mais fervorosos “santos” nordestinos: o “Padim Padre Cícero”.
Palavras-chave: Folkcomunicação; Padre Cícero; Religiosidade Popular; Messianismo.
À espera de um milagre
Segundo Carlos Rodrigues Brandão, “talvez a melhor maneira de se compreender a cultura popular seja estudar a religião” (1985, p. 15). Segundo o autor, a religião dá nomes a todas as coisas, tornando o incrível possível e legítimo.
Luiz Beltrão, em sua obra “Folkcomunicação: a comunicação dos marginalizados” (1980), descortinou novas formas de comunicação até então desprivilegiadas pelos meios ortodoxos. Dentre as mais diversas formas rudimentares de comunicação, encontramos na religiosidade sinais identificadores de uma determinada comunidade, além de ser um dos pilares para, em muitos casos, de sua ascensão social, política e econômica.
A estruturação da sociedade brasileira favoreceu o surgimento do sincretismo religioso. Desde o tempo da colonização, apesar desta diversidade de crenças, a Igreja Católica sempre esteve associada aos governantes e ao poder, sendo considerada a religião “oficial” do estado. Porém, na mesma bagagem, veio de Portugal nova configuração desta religião, normalmente praticada pela camada mais popular que, chegando ao Brasil, encontrou adeptos entre os negros, mulatos e até mesmo os índios destribalizados. Pela sua pluralidade étnica e cultural, o Brasil constituiu-se num arcabouço onde várias crenças