o Rei do

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No cinema, o que normalmente se vê, salvo casos raros de filmes alternativos que não alcançam o grande circuito, é a pessoa que gagueja ser tratada como alguém sem importância, com pouca inteligência, ou sem atrativos. Neste caso isso não aconteceu. Alguém pode afirmar que não se poderia tratar o Rei da Inglaterra como um tolo qualquer. Mas o que fez com que ele merecesse o filme foi justamente sua história de pessoa que gagueja e ser humano diferenciado, diante da contingência de liderar milhões de pessoas no curso de uma guerra dolorosa, e não poder fazê-lo de outra forma senão através do seu discurso – discurso aqui tomado num sentido geral, de produção linguística, mas também num sentido particular: a sua mensagem histórica ao povo britânico declarando guerra à Alemanha.

Porém nosso ganho não se limita a esse tratamento respeitoso. O filme em si, como realização técnica, nos ajuda bastante. Os planos fechados e os closes salientam as expressões das pessoas diante das dificuldades e dos sucessos do Rei na busca por uma fala fluente – constrangimento, vergonha, alívio. Revelam a angústia que tomava a todos enquanto o Rei sofria para falar, seja para o povo, seja para as suas filhas. A revelação desses rostos torna cruel o pensamento, exteriorizado por alguns personagens, de que a gagueira de George VI seria sinal de covardia, de incapacidade. Em alguns momentos, covardes e incapazes foram os outros, quando a História lhes reclamou seu lugar, e eles dele declinaram.

O mesmo plano fechado mostra em plenitude e fidedignidade o que se passa na mente e no corpo de uma pessoa que gagueja, quando ela precisa, justamente, não gaguejar. Quem gagueja deve entrar no cinema preparado para poderosas emoções, porque Colin Firth consegue traduzir no rosto o que se passa conosco. De fato, em entrevista, o ator demonstra reconhecer plenamente o fardo que carregamos, ao afirmar que, assim como nós, necessitou viver o sacrifício que é, para quem gagueja, a tentativa de não

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