O que e poder gerard lebrun
O QUE É O PODER
© 1981 Brasiliense
ÍNDICE
INTRODUÇÃO APRESENTAÇÃO DO MONSTRO O LEVIATÃ CONTRA A CIDADE GREGA O LEVIATÃ E O ESTADO BURGUÊS COMÉDIA LIBERAL ÚLTIMO CHEFE INDICAÇÕES DE LEITURA
3 4 10 20 27 35 44
INTRODUÇÃO
As páginas que seguem não pretendem, de modo algum, constituir uma apresentação exaustiva do conceito de poder na filosofia política. Se fosse este o caso, eu deveria limitar-me a expor um histórico da questão (detendo-me, por exemplo, nos pensadores medievais, cuja importância foi considerável). Mas, nas dimensões deste livro, um tal histórico, embora sucinto, seria forçosamente superficial. Não sou dos que pensam que o estudante de Filosofia deva percorrer em um ano as “doutrinas”, dos Pré-Socráticos a Heidegger. Seria o mesmo que viajar de Boeing para apreciar as paisagens. O meu desígnio é mais modesto. Partindo de uma palavra de significação tão complexa, tenho apenas a intenção de convidar o leitor a desfazer-se de alguns preconceitos e abandonar algumas “evidências”. Não a intenção de fazê-lo amar “o Poder”, ou de sussurrar-lhe que este “Poder” não é tão ruim quanto se diz, mas de fazê-lo visitar alguns dos cruzamentos e esquinas em que a palavra Poder se revestiu do sentido, a um só tempo vago e maléfico, que possui em nossa fala cotidiana, e isso graças a deslocamentos conceituais por vezes surpreendentes. As palavras abstratas – disse Nietzsche – são como alforjes, nos quais as épocas e as filosofias teriam acumulado as coisas mais heteróclitas. E assim a palavra acaba tornando-se um tal entrecruzamento de “marcas” que embaralha todas as pistas. A função do genealogista é reencontrar estas pistas. E, aqui, apenas tento despertar a curiosidade genealógica. Vale dizer que está ausente destas páginas à preocupação de agradar, assim como a de desagradar, a qualquer ideologia que seja. Às vezes, é preciso ferir alguma, de passagem; às vezes, é necessário tomar a liberdade de desmentir outra, mas sem intenção polêmica.