O psicanalista Kierkegard
REFLEXÃO A PARTIR DA LEITURA DO TEXTO:
BECKER, E. A Negação da Morte. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1976. (Cap. IV. “O psicanalista Kierkegaard”.)
A beleza da criação frente à certeza da deterioração, eis o paradoxo, que segundo Kierkegaard serve como entendimento básico para a psicologia moderna. O homem que, ao buscar a vida em sua essência, se depara com a finitude e, desde muito cedo, busca maneiras para lidar com essa angústia que ao mesmo tempo em que é universal é também a saída para que ele possa singularizar sua existência. A angústia diz incapacidade do homem em lidar este paradoxo fundante e é por isso que, desde pequeno, ele aprende a criar estratégias para suportar sua condição humana. Se a criança tem liberdade para explorar seu mundo e aprender a partir de suas experiências, isso da a ela maior possibilidade de se tornar um adulto mais aberto à experiências e mais confiante em si mesmo. Caso contrário, a abertura às experiências será limitada e as estratégias desenvolvidas poderão ser de tamanha rigidez que levarão possivelmente às neuroses e psicoses. Vê-se que Kierkegaard já constatava a necessidade do ser humano em utilizar-se de alguns recursos para dar conta de sua existência, o que Freud chamou mais tarde de mecanismos de defesa e vem daí a justificativa para que o autor chame Kierkgaard de psicanalista. Até porque, somente com as evidências clínicas de Freud foi possível obter provas para sustentar a teoria de Kierkegaard. Em suma, para Kierkegaard, o homem é um ser de possibilidades infinitas o que o angustia ainda mais, pois não pode contempla-las em sua totalidade. Está sempre aquém de sua potencialidade plena. O sofrimento e as mazelas psíquicas advêm, sobretudo, quando as possibilidades são levadas ao extremo ou quando o homem acredita ser limitado pelas exigências sociais e culturais, não restando a ele espaço para expressar sua singularidade. Em um meio termo o homem reconhece