O Primo Basílio
O autor, que já criticara a província em O Crime do Padre Amaro, volta-se agora para a cidade, a fim de sondar e analisar as mesmas mazelas, desta vez na capital: para tanto, enfoca um lar burguês aparentemente feliz e perfeito, mas com bases falsas e igualmente podres. A criação dessas personagens denuncia e acentua o compromisso de O Primo Basílio com o seu tempo: a obra deve funcionar como arma de combate social. A burguesia — principal consumidora dos romances nessa época — deveria ver-se no romance e nele encontrar seus defeitos analisados objetivamente, para, assim, poder alterar seu comportamento.
As personagens de O Primo Basílio podem ser consideradas o protótipo da futilidade, da ociosidade daquela sociedade.
Jorge, bem-sucedido engenheiro e funcionário de um ministério e Luísa, moça romântica e sonhadora, protagonizam o típico casal burguês da classe média da sociedade lisboeta do século XIX. Casados e felizes, falta apenas um filho para completar a alegria do "lar do engenheiro", como era chamada a residência do casal pela vizinhança pobre.
Existe um grupo de amigos que frequenta o lar de Jorge e Luísa: D. Felicidade, a beata que sofre de crises gasosas e morre de amores pelo Conselheiro; Sebastião, amigo íntimo de Jorge; Conselheiro Acácio, o bem letrado; Ernestinho e as empregadas Joana — assanhada e namoradeira — e Juliana – revoltada, invejosa, despeitada e amarga, responsável pelo conflito do romance.
Ao mesmo tempo que cultiva uma união formal e feliz com Jorge, Luísa ainda mantém amizade com uma antiga colega, Leopoldina — chamada a "Pão e Queijo" por suas contínuas traições e adultérios. A felicidade e a segurança de Luísa passam a ser ameaçadas quando Jorge precisa viajar a trabalho para o Alentejo.
Após a partida de seu esposo, Luísa fica enfadada sem ter o que fazer, no marasmo e em melancolia