O POTENCIAL OPRESSOR DA EXPANSÃO: UMA ANÁLISE DO SISTEMA DE EDUCAÇÃO SUPERIOR BRASILEIRO

1. Introdução
Para Abraham Flexner a universidade moderna, como outras instituições humanas, não é alheia, mas, parte componente do tecido social, comportando-se como indutora e paciente das modificações que ocorrem no ambiente em que está inserida (FLEXNER, 1930). Tal posicionamento opõe-se declaradamente ao colocado por outro importante pesquisador do assunto que o antecedeu, Cardeal Newman, para quem “o conhecimento [gerado e disseminado pelas universidades] deveria encerrar-se em si mesmo” (NEWMAN, 1873, p. 103) sem a pretensão apriorística de uma utilidade prática. Diante de tais posicionamentos, polarizados em torno de uma organização social que deve comportar-se como centro irradiador de um tipo de saber que, em si, representa sua própria recompensa ou, de outro lado, como produtora e indutora de um conhecimento baconiano, regido por uma filosofia da utilidade (KERR, 1966, p. 3), no mundo ocidental, industrializado e capitalista, o segundo viés tomou larga vantagem sobre o primeiro e passou a propagar-se como o padrão a ser seguido.
Trow (1970), Weiss e Dolby (2012) perceberam uma tendência desenvolvimentista, comum a muitos países, que parte da educação superior como privilégio, e assim destinada a poucos, em direção a um direito universal resignificado como um dos elementos constitutivos da mobilidade social e de responsabilidade plena de cada indivíduo a fim de manter-se competitivo.
Surgindo da transição de um estágio da educação superior como privilégio para sua universalização está a massificação da oferta de vagas, com tendências predominantemente liberais que, em linhas gerais, parte dos pressupostos, normalmente verdadeiros na visão destes autores, de que (i) há uma imensa demanda populacional a ser atendida, (ii) esta demanda populacional vê a consecução de um curso superior como porta de acesso para melhores condições de vida, (iii) o Estado se vê como incapaz de, pelo menos em um primeiro momento, suprir tal demanda de forma universal ou não