O narrador nas novelas de Camilo Castelo Branco
Roseane Leal Fraga
Enquanto os oitocentos foram o reinado do romance como meio de expressão do mundo moderno, as narrativas epistolares e os livros de memória ganharam uma perfeita acomodação ao contexto sóciohistórico, ou vice-versa, formas mais convincentes, para o leitor mais objetivo, mais prático e ainda entusiasmado com a invenção da imprensa. Escrever a verdade na ficção, ou melhor, apresentar a representação da realidade ao leitor, mesmo que abusando de recursos carnavalescos ou convenientemente da ironia, está longe de ser tarefa simples. O texto narrativo faz parte da vida cotidiana do ser humano, sua criação é inerente a necessidade de se contar fatos e eventos que se sucederam no decorrer da história. Um evento como uma guerra mundial ou até a simples elaboração de um curriculum vitae é precedido de uma narrativa e estes textos obviamente não podem deixar de ser construídos, embora a arte de narrar esteja desaparecendo e bons contadores de história sejam difíceis de encontrar. Os termos ”narrar”, narrativa” e “narrador”, derivam do verbo latino narro e significam “dar a conhecer”, “tornar conhecido,” necessidade intrínseca ao texto narrativo ao se criar uma lógica, “um mundo verossímil” (AGUIAR E SILVA, 2000). Balzac ao construir uma narrativa colocava-se a disposição como secretário da sociedade francesa do seu tempo. A ficcionalidade constitui-se uma propriedade para a existência do texto literário para que sejam estabelecidas as possíveis relações entre o mundo construído pelo texto literário e o mundo empírico. Ao problema da verossimilhança, sendo lógica do enredo, não como simples imitação da realidade, mas “reveladora das essências”, responde Aristóteles que o poeta deve falar o menos possível por conta própria, suas experiências deverão ser contadas e não representadas como num diálogo de atores em cena pois para se revelar a essência é preciso deixar que leiam. Responder porque alguns autores ainda