O Mais S Bio Dos Homens
Para os gregos, o destino é o que tece os fios da vida humana. Daí brota a resignação, a melancolia e a religiosidade da alma grega. A razão guia o homem como o timão a embarcação, mas o destino e os deuses a impulsionam como o vento e a maré: dois terços da existência dependem do destino. Sócrates põe a razão à prova, mede seu alcance e a exercita até as fronteiras do mistério. Na história do ocidente, Sócrates protagoniza o primeiro grande esforço de recorrer à razão não somente para sondar o ser, mas também para compreender as condições, os limites e os fins da condição humana e de seu destino.
Numa Atenas agitada pela guerra do Peloponeso, ocupada por tropas estrangeiras e governada por facções oligárquicas, a atividade de Sócrates resultou estranha e desconcertante. Para alguns parecia um sofista, sempre rodeado pelos melhores jovens da aristocracia ateniense, mas não recebia deles nenhuma retribuição por seus ensinamentos e logo se viu que sua pretensão era superar a sofística e recuperar o respeito pela verdade. Os sofistas declaravam-se mestres de virtude, mas os princípios teóricos de seus ensinamentos conduziam a um pessimismo radical sobre a condição humana, do qual o indivíduo era convidado a libertar-se se entregando a imoralidade relativista. Frente aos sofistas, Sócrates defende os valores com firmeza, seu pensamento não está a serviço de interesses partidários, nem envolto no engano da retórica. A palavra deixa de ser instrumento de manipulação e recobra seu valor ético a serviço da comunicação da verdade.
Se a Grécia representa o esforço humano por elevar-se da obscuridade à luz racional, Sócrates é o exemplo genuíno deste esforço. Sua vocação nasce de uma maneira muito original: Querofonte, amigo de Sócrates, ao perguntar ao oráculo de Delfos se havia algum homem vivo mais sábio que Sócrates, recebeu uma surpreendente resposta: Não!
“Ele supõe saber alguma coisa e não sabe, enquanto eu, se não sei, tampouco