O leviatã
CAPÍTULO XLIV
Das trevas espirituais resultantes de má interpretação das Escrituras
A quarta parte do livro nada mais é que uma crítica profunda às Sagradas Escrituras, a partir de falhas que elas apresentam. Além dos poderes soberanos dos homens e divinos, há ainda os poderes malignos (do reino das trevas). Satanás é chamado príncipe do poder do ar e as pessoas que estão sob seu domínio são chamados filhos das trevas. O reino das trevas é uma confederação de impostores, que se utilizam de doutrinas errôneas para despreparar os fiéis e descrentes para a vinda do Reino de Deus. Ninguém é capaz de conceber um grau maior de luz do Evangelho do que aquele que já chegou. Com os desastres ocorridos pelo caminho, os homens descobrem as próprias trevas. O demônio consegue implantar-se quando as pessoas não conhecem as Escrituras, pois ‘apagam’ as luzes das Escrituras da religião e misturam a estas a demonologia (doutrinas dos demônios) e falsos conceitos, com o intuito de confundir a cabeça dos que não se aprofundam na religião. As escrituras apresentam três erros principais: o primeiro deles é que há alguns homens que estão isentos dos tributos e dos tribunais do Estado civil. O segundo é transformar a consagração em conjuração. Consagrar nas Escrituras é dar ou dedicar um homem a Deus (santificá-lo) para ser usado apenas por aqueles a quem Deus nomeou para serem seus ministros públicos e, portanto mudar o uso, de profano e comum a sagrado, o que nada mais é que pura conjuração ou encantação, pois querem que os homens acreditem numa alteração da natureza que não existe. O terceiro erro é mal interpretar as palavras ‘vida eterna’, ‘morte eterna’ e ‘segunda morte’. Vida eterna é para todos, pois há muito tempo conceituou-se alma (que é a parte imortal do ser humano), portanto as pessoas boas e as más gozarão da vida eterna, sem qualquer morte, muito menos a segunda e eterna morte. Segunda e eterna morte se