O ler, o ver, e o ser na sociedade creôntica e imagofrênica
Ivo Lucchesi
Sócrates - Então, são o mal e o vício próprios, por natureza, de cada coisa que a destroem, e, se esse mal não a destrói, nada mais poderia fazê-lo. Na verdade, o bem nunca destruirá o que quer que seja, assim como o que não é nem um bem nem um mal (Platão, [347 a.C.], 1997: 339). O mundo é onivoyeur, mas não é exibicionista - ele não provoca nosso olhar. Quando começa a provocá-lo, então começa também o sentimento de estranheza (Lacan, 1985: 74). Explicação prévia Alguns pares de anos separam a presente escrita de suas iniciais formulações. Mais precisamente, é de junho de 1997 quando, na preparação do esboço do que redundaria adiante na tese de doutoramento, publiquei o ensaio "O vigor do sentido contra o devaneio obscurantista" no qual constavam os tópicos referentes à "sociedade creôntica", "os modos de ser: subjetividade descentrada e subjetividade prospectiva", bem como "os modos de ler". Posteriormente, tais reflexões, com acréscimos, migraram para compor a parte introdutória da tese "O sentido e a crise no curso da modernidade: a diáspora dos signos", defendida em setembro de 2003. Para a presente publicação, há, portanto, o exercício de uma retomada de certo atalho no qual, com outros cruzamentos, se pretende um registro definitivo. Envolve, pois, esta escrita a tentativa de depuração e aprofundamento de questões cuja motivação se situa nas renovadas provocações que o olhar absorve daquilo que o mundo lhe oferece como impacto e transformações, a exemplo da bela definição de Maurice MerleauPonty: "(...) o olho é aquilo que foi comovido por um certo impacto do mundo /.../." (1980: 81).
Comum - Rio de Janeiro - v.12 - nº 27 - p. 26 a 85 - julho / dezembro 2006 26 COMUM 27
Dentre inúmeras situações gestadas por "impactos", aflora a progressiva presença de imagens, pautando o cotidiano das pessoas, aspecto do qual já me ocupava a atenção, em 1995, ocasião na qual publiquei o