O legado de Santo Agostinho
A procura da verdade no interior do ser humano
Antonio Carlos Olivieri*
Da Página 3 Pedagogia & Comunicação
"Não é certo que os leitores de Agostinho passarão os portais do céu. Mas é seguro que eles entrarão no paraíso da literatura." Assim se referiu com muita pertinência a santo Agostinho o historiador materialista Luiz Felipe de Alencastro, num pequeno artigo sobre este que é um dos maiores pensadores católicos de todos os tempos.
Iluminura medieval das Confissões, com a imagem de Agostinho
De fato, além de filósofo, Agostinho era um escritor primoroso, expoente da literatura em língua latina, o que pode ser confirmado principalmente pela leitura das suas Confissões, uma obra-prima. No entanto, infelizmente, mesmo lido em português, não se trata de um livro fácil para o leitor de hoje. Contraditoriamente, trata-se de uma obra de gritante atualidade.
Quem quiser se aventurar a conhecê-la deve se lembrar de que só se pode ver o panorama esplendoroso do pico de uma montanha depois de empreender uma difícil escalada. Da mesma maneira, é difícil explicar em poucas linhas a obra de Agostinho, que conta com cerca de 5 milhões de palavras.
Aspectos biográficos
Por isso, este artigo se limitará a alguns aspectos do filósofo e teólogo, a começar pelos biográficos, já que as Confissões são, em sua maior parte, uma autobiografia - a primeira escrita na história da humanidade.
Agostinho ou Aurelius Augustinus (354-430) foi um homem que viveu num momento limite: o Império romano se esfacelava: com a queda de Romaterminava o mundo antigo e tinha início a Idade Média, por isso, talvez, o filósofo tenha produzido uma obra que é essencialmente a síntese do pensamento de Platão com o cristianismo.
Seus pais se esforçaram para mandá-lo estudar na Universidade de Cartago, a grande metrópole da África romana. Em vez de dedicar-se aos estudos, Agostinho preferiu dedicar-se a uma vida de prazeres, preferencialmente os sexuais, tanto que se