O homem que confundiu sua mulher com um chapéu
A melhor resposta (pra quase tudo, inclusive casamentos) é talvez.
Mas como essa resposta não pode ser aplicada a nosso bel-prazer (inclusive em casamentos), justifique-se:
Literatura é linguagem. Advém daqui termos como belas letras. Indo pouco além, dá pra dizer que literatura é linguagem e intenção de uso dela. Um uso observado pela "chegada" dela no leitor.
Quando digo que tenho em mãos um livro de um médico neurologista sobre casos reais de pessoas que tinham/têm problemas de disfunção cerebral, uma palavra naturalmente vem à cabeça das pessoas fora d'área médica: "chato".
Palavra que ficará de fora da fluente leitura proporcionada pelo autor.
Já de título se apresenta 'O Homem Que Confundiu Sua Mulher Com Um Chapéu'. Intenção clara do autor, Oliver Sacks, em propor algo menos restrito e técnico.
Sacks, com essa consciência lúcida de qual leitor espera que encontre sua obra, desenvolve todas as histórias com grande delicadeza e naturalidade. Escreve casos clínicos narrados em primeira pessoa, a partir do seu ponto de vista, descrevendo as dificuldades e a recuperação de cada um dos pacientes.
O livro apresenta vários casos, todos cheirando a conto. Casos reais, em sua grande maioria acompanhados pelo Sacks-médico. Histórias incríveis sobre a fragilidade humana, sobre a grandeza dos pequenos detalhes, da felicidade da superação e a tristeza da perda irreconciliável.
Problemas que não são notícia de jornal, que não aparecem o tempo todo nas praças que passamos, que não pegam ônibus com a gente, mas que existem.
Tão raros que nos parece impossível que alguém os tenha.
Mas existem. E ocasionados pelos motivos mais diversos.
Uma jovem que perdeu o controle sobre seu corpo, como se ela não tivisse músculos funcionais ou ossos. Um homem que anda com os ombros em grande desnível