O enigma de kaspar hause
Maria Clara Lopes Saboya
Fundação Instituto Tecnológico de Osasco
A partir de uma abordagem histórico-cultural em Psicologia, este trabalho analisa o percurso de desenvolvimento de Kaspar Hauser, um personagem real e enigmático que, quando encontrado em Nuremberg, em 1928, com supostamente 15 anos, não sabia falar, nem andar e não se comportava como humano. Até hoje o seu enigma persiste: apesar de muitas hipóteses e suspeitas, não se descobriu sua origem. Apoiando-se em estudos de Vygotsky e Luria, que indicam que a percepção depende, sobretudo, da práxis social, necessária para gestar o referencial cultural de apreensão da realidade, a autora analisa como se articulam linguagem e pensamento no desenvolvimento cognitivo de Kaspar Hauser e como ele concebe o mundo que o cerca, tendo sido privado dos filtros e estereótipos culturais que condicionam a percepção e o conhecimento.
Descritores: Hauser, Kaspar. Cultura. Educação. Estigma. Linguagem. Socialização. Vocês não ouvem os assustadores gritos ao nosso redor que habitualmente chamamos de silêncio?(Prólogo do Filme O Enigma de Kaspar Hauser de Herzog, 1974) |
1. Introdução
Trabalhando com a perspectiva histórico-cultural em Psicologia, que enfatiza que cada ser humano se constitui como uma pessoa totalmente única (por suas experiências e sua história de vida) e que ressalta a importância das práticas culturais na definição do desenvolvimento psicológico do sujeito, buscou-se selecionar um personagem humano (Kaspar Hauser) que não correspondia, na época em que viveu (séc. XIX), aos padrões de comportamento tidos ou esperados como "normais" dentro da cultura da época.
Pretende-se analisar neste trabalho o percurso de desenvolvimento de Kaspar Hauser, buscando a compreensão de fatores que concorreram para a construção de seu psiquismo.
Para efetuar esta análise, pretende-se utilizar as referências sobre a vida do rapaz encontradas em diversas