Filosofia
Para compreender o Enigma de Kaspar Hauser, que em uma tradução literal seria algo do tipo “Cada um por si e Deus contra todos”, temos, antes de tudo, que mergulhar no universo de seu realizador: o cineasta alemão Werner Herzog.
Costumeiramente associado à imagem de alguém cuja sanidade mental é questionável; de difícil compreensão e de difícil relacionamento, poucos atores se atrevem a trabalhar com Herzog, até porque já houve relatos de Herzog ameaçar atirar em atores que cogitavam não terminar o filme. De fato o diretor não poupa esforços para converter para tela seus devaneios – o que se nota sobremaneira, por exemplo, em Fitzcarraldo. Seus filmes exalam, afinal, uma visão extremamente particular, funcionando em muitos casos como auto-retratos do diretor.
Frequentemente retrata personagens quixotescos, grandes aventureiros com sonhos quase impossíveis de serem realizados que beiram à loucura, ou então, personagens impulsivos, com largos vícios e obsessões. Isso quando não são ambas ao mesmo tempo. É importante, contudo, reparar que em sua imensa maioria, são personagens desajustados em seu meio. Seja ele a natureza, ou a sociedade urbana. Não é, pois, difícil entender o porquê de Herzog identificar-se com a história de Kaspar Hause, que é, provavelmente, a hipérbole máxima da lúcida loucura de Herzog.
A trama baseia-se na história real de um jovem que é encontrado, em 1928, em Nuremberg, estático em uma praça com um braço esticado e uma carta em sua mão. Mal conseguia sustentar-se de pé. Após aprender a falar, descobriu-se que o rapaz ficara trancado por 15 anos, desde seu nascimento, em um porão escuro, sem nunca ter visto outro ser humano ou sequer a luz do sol. Apesar do aparente apelo melodramático, não espere sentimentalismos por parte de Herzog. Aliás, a frieza na condução da obra merece aplausos. Além disso, a narrativa, por vezes, utiliza de cenas avulsas para modelar cenas