O CONTO DO VENDEDOR DE INDULG NCIAS
5084 palavras
21 páginas
O CONTO DO VENDEDOR DE INDULGÊNCIASSegue-se aqui o Prólogo do Conto do Vendedor de Indulgências.
Radix malorum est Cupiditas: Ad Thimotheum, sexto.*
“Senhores,” – começou ele, – “quando prego nas igrejas, minha única preocupação é empregar linguagem elevada e falar com voz clara e sonora como um sino, pois sei de cor tudo o que digo. Meu tema é, e sempre foi, apenas um: Radix malorum est Cupiditas.
“Em primeiro lugar, declaro de onde venho; depois, apresento, uma por uma, todas as minhas bulas. Antes de qualquer coisa, porém, mostro o selo papal em minha licença, para garantir-me a integridade física e para que nenhum petulante, padre ou noviço, venha perturbarme no santo trabalho de Cristo. Somente aí começo a desfiar minhas histórias, reforçadas com mais bulas de papas e cardeais, de bispos e patriarcas, e entremeadas de algumas poucas palavras em latim para temperar a minha prédica e estimular ainda mais a devoção.
“Finalmente, exponho as minhas longas caixas de cristal abarrotadas de trapos e de ossos... São relíquias, percebem logo os fiéis. Entre elas mostro, revestida de latão, uma omoplata de carneiro que pertencera a um santo patriarca hebreu. Boa gente, digo, atentem para as minhas palavras: se alguma vaca, ou bezerro, ou ovelha, ou touro inchar, por ter comido uma cobra ou dela ter levado uma picada, mergulhem este osso na água de uma cisterna e com essa água lavem a língua do animal, e ele ficará curado. E não é só, pois a ovelha que beber dessa mesma água estará livre de erupções, de morrinha e de qualquer outro mal. Prestem atenção também ao que agora vou dizer: se o bom homem, dono dos animais doentes, toda manhã, antes que o galo cante, tomar em jejum um gole dessa água, irá então, segundo o testemunho que legou a nossos pais aquele mesmo santo hebreu, multiplicar os seus bens e o seu rebanho.
“E também é um remédio, senhoras e senhores, contra o ciúme. Se um marido desconfiado tiver um acesso de fúria, preparem-lhe uma sopa com a água daquela