O choque das civilizações
A maneira de pensar descrita acima é corroborada no senso comum e na tradição acadêmica orientalista1 ainda hoje. Elaboram-se frágeis teses, que pautadas em dados históricos isolados, não dão conta de explicar as mudanças políticas ocorridas e, portanto, não podem se sustentar quando confrontadas com as experiências vivenciadas por estes países.
Nesta perspectiva, a teoria de Samuel Huntington indica que existe uma intolerância islâmica que leva os países muçulmanos a diversos confrontos e que o risco de um Choque de Civilizações é iminente. A proposta deste artigo, portanto, é fazer uma reflexão sobre tal conceito, tentando verificar a pertinência deste como fundamentação histórica.
De acordo com Edward Said
...no contexto colonial e pós-colonial, as retóricas da cultura geral ou da especificidade civilizacional marcharam em duas direções potenciais: uma utópica, que insistia num padrão geral de integração e harmonia entre todos os povos; a outra que sugeria que todas as civilizações eram de fato específicas e ciosas, monoteístas, a ponto de se rejeitarem e entrarem em guerra contra todas as outras. Entre os exemplos da primeira linha estão a linguagem e as instituições das Nações Unidas fundadas logo após a Segunda Guerra, e o surgimento, a partir da ONU, de várias tentativas de um governo mundial baseado na coexistência, nas limitações voluntárias da soberania e na integração harmoniosa de povos e culturas. A segunda direção deu origem à teoria e à prática da Guerra Fria e, mais recentemente, à idéia de que o choque de civilizações é – se não uma