O arquitecto
ARQUITECTO: PROFISSÃO ANTIGA
Paulo Pereira
“Desde a mais remota antiguidade...”: é esta a frase com que, de costume, começam artigos com títulos como este. O certo é que a antiguidade é, de facto, deveras remota; e a profissão de arquitecto não é tão recente como isso.
O problema coloca-se logo à partida da seguinte maneira: quando é que surge a palavra “arquitecto” com um sentido próximo do actual? 1. A resposta é simples: desde 1468 em Itália (architettore) 2 ; desde 1532 em Portugal (“archetector”) 3.
Mas quando é que, em bom rigor, a palavra “arquitecto” passa a corresponder em termos de conteúdo àquilo que é hoje consensualmente aceite como sendo o exercício profissional da arquitectura? Lentamente, em data indeterminada, na segunda metade do século XVI, com a institucionalização do ensino da arquitectura e com a deslocação da profissão do âmbito das artes mecânicas para as artes liberais –implicando conhecimentos de artimética, geometria especulativa e de “desenho”. Nessa altura, por razões epistemológicas e um pouco por todo o mundo cristão, o arquitecto passa a ser o indivíduo que projecta edifícios, desenhando-os mediante convenções universais de representação, identificáveis em qualquer parte do mundo (ocidental).
O trânsito e a migração de arquitectos passa a ser desde então uma coisa relativamente banal e instaura-se em definitivo um mercado, regulado por questões de gosto e de economia. Os grandes projectos institucionais eram encomendados a arquitectos prestigiados, fossem eles nacionais ou estrangeiros. E as escolhas assemelhavam-se, por vezes, aos actuais concursos.
Outro factor que vem introduzir alterações a este estado de coisas é a academização da arquitectura e a crescente proliferação de arquitectos, muito em especial a partir dos inícios do século XIX. Isto é, o ensino e a forma como este passa a ser ministrado -ou seja, a forma de caucionar a competência do profissional-arquitecto-, passa a ter uma