Buscando na história pistas possíveis para soluções aos problemas contemporâneos, deparamo-nos com fenômenos em certa medida repetitivos e quase sempre ineficientes. Atenas, Grécia, quinto século antes de Cristo: Sócrates é condenado à morte, em última análise, por atentar contra a democracia ateniense (é o que defende, por exemplo I. F. Stone em O Julgamento de Sócrates, Cia das Letras, 1988). Ao invés do governo do povo ou democracia, pregava o governo "daquele que sabe" liderar um povo como um pastor lidera suas ovelhas. Se nos recordarmos que o pastor cuida de suas ovelhas para tosquiá-las, ordenhá-las e sacrificá-las, tendemos a refletir se esta seria a melhor forma de encaminhamento para a coisa pública... De mais a mais, dotados que somos todos nós de razão, quem pode ousar supor saber gerir melhor a nossa vida que cada um de nós? Sócrates, por sua pregação autoritária, antidemocrática, atraiu a si a ira da democracia ateniense que, contudo, sendo ele já um ancião digno de consideração e respeito, é contemplado com a possibilidade de propor um apenamento alternativo. Arrogantemente afrontando os membros da Agora, informa julgar que esteve fazendo um bem, não um mal à juventude ateniense e, em conseqüência, propõe ser sustentado no Pritaneu - algo equivalente a um condomínio de luxo nos jardins paulistanos com todas as despesas pagas... Propusesse ele pagar uma moeda que fosse e a Agora, satisfeita, comutaria a pena, por exemplo ao ostracismo - ser expulso da cidade por um dado período. Sócrates prefere morrer pelas idéias que julga corretas. Ocorre que suas idéias aristocráticas, não "bebendo cicuta" com ele, permanecem nos corações e mentes de todos os que até hoje idolatram as mais diversas formas de autoritarismo pelo mundo afora.
Podemos perceber, portanto, que havia uma grande contradição no regime democrático dos atenienses. O poder não era exercido pelo povo como se refere em sua etimologia e sim para uma pequena porcentagem da população. Os