I Aruanda texto
Autora: Mariana Bracks Fonseca. Doutoranda em História Social- Universidade de São Paulo (USP)
Apoio: FAPESP
Tradições orais como fontes para a história dos africanos e de seus descendentes na diáspora.
Na África, a oralidade, e não a escrita, leva ao conhecimento. Por todo o continente, as palavras têm poder e criam realidades ao serem proferidas.1 A tradição oral é fonte privilegiada para as histórias africanas, pois revela o conjunto de usos e valores que anima um povo a seguir os arquétipos do passado2. Os mitos de criação, os grandes feitos dos antepassados, as genealogias são registradas por músicas, provérbios e narrativas que guardam a sabedoria dos povos africanos.
Milhares de africanos vieram ao Brasil, para onde trouxeram suas histórias, visões de mundo e crenças. Mas estes conhecimentos não foram registrados em livros, suas memórias foram perpetuadas através de cantos, ritmos, rituais que hoje constituem a cultura afro-brasileira. Os povos da região de Angola foram uma das principais vítimas do tráfico de escravos3 e muito contribuíram para a formação cultural brasileira. Várias de nossas manifestações culturais foram criadas seguindo as concepções centro-africanas e carregam ainda hoje esta identidade com “Angola mãe”, ainda que recebessem contribuições de outras etnias africanas e indígenas.
Apesar da notória importância das fontes orais para a história da África, os estudos sobre os africanos e seus descendentes na diáspora ainda não se debruçaram sobre o uso destas e baseiam, sobretudo, em fontes escritas, produzidas pelo colonizador branco. Este estudo vem, portanto, fortalecer o uso das tradições orais para a construção da história dos afro-brasileiros, valorizando o repertório da cultura popular cristalizado nas músicas e canções cantadas há gerações. Considero que as tradições orais revelam os sentimentos, visões de mundo, desejos da população negra e marcam a identidade étnica africana