A ética nas relações entre empresas e sociedade: fundamentos teóricos da responsabilidade social empresarial
RESUMO
O objetivo deste artigo é apresentar e discutir a evolução das principais correntes teóricas empenhadas em justificar o conceito de responsabilidade social empresarial (RSE). Embora no Brasil fale-se cada vez mais a respeito de ética nos negócios e de responsabilidade social das empresas, muitas vezes os argumentos escolhidos para justificar a RSE são essencialmente contraditórios, e misturam pressupostos derivados de orientações teóricas simplesmente incompatíveis entre si. Desde que a problemática relativa às relações entre ética, empresas e sociedade emergiram no início dos anos 60, a produção acadêmica nesse campo deu-se em três tipos de abordagens, ou escolas de pensamento, bastante distintas: a Business Ethics, matriz e precursora de todas elas, identificável por sua natureza normativa; a Business & Society, de orientação sociopolítica e contratual; e a Social Issues Management, abordagem de cunho instrumental, voltada para a gestão estratégica das questões éticas e sociais. Após um rápido esboço do contexto histórico dentro do qual surgiu o conceito de RSE, o texto apresenta algumas das principais características de cada uma das três abordagens, sublinhando aquilo que as distingue.
Por fim, avança-se a hipótese que, ainda que partam de princípios bastante diferentes e até opostos, as três correntes teóricas acabam por reforçar-se mutuamente e promovem, em última instância, a mesma ideologia: ou seja, a apropriação de diversas questões de interesse público e político pela iniciativa privada.
INTRUDUÇÃO
A escolha explica-se pelo fato de que, embora no Brasil fale-se cada vez mais a respeito de ética nos negócios e de responsabilidade social das empresas, frequentemente os pressupostos teóricos subjacentes a esse debate não vêm à tona de modo claro, nem são explicitadas certas afiliações ideológicas