A Técnica das contradições em "Acontece que Deus é grande", de Rubem Braga
Adilson dos Santos (PG-UEL/CAPES)
Ednéia Vieira Rossato (PG-UEL/CAPES)
Em “Acontece que Deus é grande”, crônica escrita por Rubem Braga em 1990 e que integra a coletânea Um cartão de Paris, depara-se o leitor com um texto cujo cronista conduz sua história através de contradições. O fato que vai desencadear a construção da crônica é uma carta que este recebe de uma leitora que deseja “contar sua insatisfação na vida” e que, segundo ele, espera por “compreensão e apoio”. Já no início da narração o cronista se julga incapaz de ajudá-la, porém, contrariamente ao que se espera de alguém que não se sente capaz de “dar nenhuma resposta útil”, o que vão ser apresentados no desenrolar da narrativa são inúmeras respostas e muitos conselhos.
Nesse primeiro momento, em que o narrador se declara incapacitado para ajudá-la, ele passa por uma reflexão na qual o problema pessoal da leitora torna-se social, ou seja, a partir do problema dela o narrador começa a analisar o sofrimento vivido pelas “pessoas solitárias, aflitas, fechadas em sua própria timidez, pudor ou orgulho” (BRAGA, 1998, p.111/1121) de um modo geral. A sua “incapacidade” em vez de gerar falta de assunto, faz com que ele se amplie.
A partir dessa reflexão, mais uma vez o prosador do cotidiano vai declarar que não é a pessoa certa para dizer algo para as leitoras que insistem em lhe escrever: “Que diabo poderá fazer o cronista, que não é padre nem analista, mas apenas um homem comum, de vida comumente também atrapalhada e triste, para ajudar alguém?” (p.112) Com essa declaração, na verdade, o cronista chega a dar duas respostas para sua leitora. Ao dizer que não é padre e nem analista, sugere a ela duas classes de pessoas que, normalmente, são preparadas para dar conselhos, pois a ele, na condição de cronista, só caberia “na melhor hipótese apenas algumas palavras boas do gênero mais banal.” (p.112)
O que podemos perceber até