A trajetória do Ensino Fundamental e Médio no Brasil como mecanismo que define e molda a prática escolar
Profa. Millena Senziali
A educação brasileira, ao longo de sua história, sempre esteve a serviço do capital e da sociedade de classes, privilegiando a poucos. Esse controle e jogo de interesses têm origem na era jesuítica, que era voltada predominantemente para o ensino secundário. O ensino básico ou fundamental nunca teve lugar de destaque na pauta das políticas públicas brasileiras em toda a sua história, pois o que mais importava para as elites sempre foi a formação em nível superior. A expulsão dos jesuítas pelo marquês de Pombal desmantela a estrutura educacional por eles montada, a qual possuía muitas escolas, muitos bens, além de ter formado professores e disciplinado alunos por muito tempo. Pode-se questionar a validade do ensino dos jesuítas na formação da cultura brasileira, mas é indiscutível que de início seu desmantelamento foi prejudicial, pois o ensino regular não foi substituído por outra organização escolar. Da estrutura construída pelos jesuítas nada foi aproveitado. O marquês de Pombal somente inicia a reconstrução do ensino uma década mais tarde, provocando um retrocesso de todo o sistema educacional brasileiro. No Brasil Império, permanece a preferência pelo ensino superior que visava atender aos interesses da época (determinados por João VI): formar oficiais do exército e da marinha (para a defesa da Colônia), engenheiros militares e médicos. O destaque ao ensino superior não é estendido aos demais graus da educação. Através de todo o século XIX, a educação arrastou-se desorganizada e desagregada. Entre o ensino primário e o secundário não havia articulação: eram dois mundos que se orientavam cada um na sua direção, enquanto todos os países do mundo caminhavam em sentido oposto, promovendo a educação nacional. Além disso, o ensino primário e o secundário não eram voltados à camada popular: em 1867, apenas 10% da